a nossa separação.


Quero que contes a nossa história. A separação. Tal como a dos outros, embora distinta por ser a nossa, por ter sido provocada por diversos choques e brechas mal disfarçadas ao longo de sete meses de namoro que, afinal, nem isso foi. Ou foi?
Como se classifica um namoro assim?
O pião e o meu corpo, duas imagens que se sobrepõem. Perguntarás porquê? O meu corpo rodopiou nas tuas mãos como se tivesse a sabedoria antiga de algo cuja pertença era apenas tua.Toda eu, em pele, era só tua e esperava pela chegada de quem soubesse. Lamechas, dirás? Pois seja. Pouco me importa. Estava à espera de que alguém tivesse a bondade de me olhar dentro do corpo, dentro dos olhos, sem pudor ou medo, para que eu conseguisse ver o outro lado do mundo, uma dimensão diferenciadora do amor. Dizem que os anjos voam porque se fazem leves e eu levitei nos teus dedos, dentro e fora, como num sonho inesperado.
Não houve nada de mecânico, preconcebido, automático. Eu era apenas um mapa novo e tu descobrias as rotas e os trilhos, com cuidado, com perícia. Abandonei-me nos teus braços para, mais tarde, muito mais tarde, me castigares com a palavra “passividade”. Não sei se passividade tem origem na palavra pacífico, sei pouco da etimologia das palavras. É pena. Porque sempre fiz uma ligação, talvez infantil, de passividade-pacífico-paz-feliz. Sim, já sei que feliz é com outra letra que começa, mas faz parte da mesma família de palavras no meu coração.
Eu gosto muito de ti. Mas não desse farrapo de gente, assustado, a fugir de si próprio, amargo por dentro, cego ao que a vida te oferece, mergulhado numa depressão e na noite das próprias trevas, dominado pela dor e sem perceber que quem controla a relação é o submisso e não o dominador, porque só aquele tem o poder de dizer: basta!
O meu “basta” é uma forma indirecta de dizer: adeus, meu amor...não, não é uma pergunta, é um entendimento. Uma clarificação.
Falta pouco para me convencer de que posso ser o que quiser. Falta muito pouco, mas tu, querido, não precisas de esperar. O nosso tempo voou.  O amor é eterno até terminar, ou algo assim. Não posso ocultar a dor e as montanhas que nos afastam. Vai. A vida está à tua espera. Não olhes mais para trás. Ficas sempre perto de mim.

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